Lá não tem Dona Maria, então se vira nos trinta, mano véi.

É, tá grande assim pra valorizar, mesmo. Fiz hoje o meu primeiro pudim, não rachou, não tá duro, não queimou. Como diz o meu amigo Thiago: "só alegria!".

Então, agora vem a pergunta importante: por que, só depois de 30 anos a pessoa resolve aprender a fazer estas coisas?

Gente, eu tô indo pro Canadá. Lá a coisa funciona diferente daqui. A relação de valor entre pessoas e objetos é outra. E isso se reflete em igualdade, ou pelo menos em redução das diferenças. Pessoas trabalham em cargos diferentes, têm salários diferentes, mas a diferença é muito menor do que a que vemos por aqui. Isso significa que a maioria das pessoas tem uma renda parecida, e é suficiente pra você, sua família, sua casa, seu carro, sua vida. Onde quero chegar com isso? Não é comum se ter empregada em casa, e você precisa aprender a se virar sozinho. Cozinhar, consertar as coisas, reformar a casa, coisa e tal.

Já vi exemplo de gente daqui que disse: "Velho, que é tu vai fazer lá, um lugar ruim danado pra ganhar dinheiro. Lá tu pode ser qualquer coisa e ainda vai ter o mesmo carro que todo mundo tem". Pois é justamente isso, tem uns cidadãos goiabas que pensam que ganhar dinheiro é ter muito mais que o companheiro aí do lado. O que acontece é que eu vejo jovens trabalhadores do Québec viajando o mundo todo, passeando, pagando suas contas e sendo felizes sem precisar se matar de trabalhar, sem precisar esquecer o que há de melhor na vida: viver.

Eu não quero ter vida mole, nunca foi a minha praça, e não pretendo ter mais do que ninguém. Aliás, eu pretendo ter amanhã apenas uma coisa a mais do que eu mesmo tenho hoje: direito a uma vida bem vivida, com minha esposa Marthinha linda, meus filhos que virão e acima de tudo, bem vivida comigo mesmo.

E é claro, compartilhar faz parte dessa vida, e por isso, colocarei para os cozinheiros faixa branca, a receita do pudim, sem esquecer da versão adaptada para as terras onde o leite condensado não é tão fácil de encontrar. Sim, nem tudo são flores. Mas o doce da vida mora em outros sabores.

Se prepare, é difícil, mesmo pra alguém com a minha experiência: nenhuma.

Versão Brasuca:

Pega uma forma de pudim, dâ, jura? e coloca 8 colheres das de sopa, de açúcar. E derrete esse açúcar no fogão, sem deixar queimar dâ de novo. Dica: Não deixe cair açúcar não-derretido em cima do derretido, embolota que é uma beleza. Espalha o açúcar derretido no interior da forma e deixa lá esfriando.

Pega o liquidificador, é bom lavar antes, e coloca dentro dele:

- 2 caixas/latas de leite condensado;

- 6 ovos;

- 150ml de leite (pode ser leite em pó dissolvido em água);

- Bate, mas bate com gosto!

- Dá mais uma batidinha, que ele gosta.

- Pronto, passou a safadeza, joga ele na forma;

- Leva ao forno (assim demora mais) ou coloca em banho maria (eu prefiro, coberto com papel alumínio)

- Deixa lá e vai assistir as notícias do terremoto no japão.

- Depois de uns 30 minutos vc volta. Ainda deve estar molinho, mas não custa checar, você pode fazer isso com uma faca, espetando o bichinho pra ver se ele tá muito mole.

- Fica checando até ele ficar sussa! Quando que ele tá sussa? Ah peraê, também. O que sei é que ele começa a descolar da panela e ficar mais coradinho nas bordas, e pela consistência você percebe que ele tá supimpificando.

Versão Quebéc:

Mesma coisa, só que você bestitui o leite condensado por leite normal com açúcar, as medidas são:

- 500ml de leite, pode ser leite em pó dissolvido em água (200g de leite em pó);

- 1 copo de 250ml de açúcar;

- Dissolve o açúcar no leite e joga no liquidificador que você mesmo lavou, porque Maria ficou no Brasil.

- O resto é o resto.

É isso aí, espero que adoce a vida de vocês.

Beijos e abraços